O que é a interpretação de conferência
Interpretação é a transposição de um discurso oral/gestual emitido numa língua para outra língua. Os tipos de interpretação mais comuns são a interpretação de conferência, a interpretação de acompanhamento e a interpretação comunitária/judicial.
A atividade de interpretação de conferência é exercida no quadro de reuniões multilingues e tem três modalidades: simultânea, consecutiva e sussurrada.
Tipos de Interpretação de Conferência
O intérprete ouve a intervenção do orador e vai tirando apontamentos, reproduzindo, em seguida, numa outra língua, o discurso original. Há uma alternância entre o discurso do orador e a intervenção do intérprete.
Aplica-se às seguintes situações: reuniões com poucos participantes e de curta duração, reuniões de negócios, audiências em tribunal, conferências de imprensa, breves aparições em palco, visitas a instalações, etc.
O intérprete fica junto dos ouvintes (um ou dois, no máximo) e vai-lhes transmitindo em voz baixa, na sua língua, o que está a ser dito na sala.
Aplica-se às seguintes situações: eventos em que só é necessária interpretação para uma ou duas pessoas e em que não é possível a instalação de uma cabina de interpretação.
Casos Especiais
O intérprete posiciona-se num local relativamente afastado dos participantes (mas suficientemente perto para ver e ouvir os oradores) e, através de um equipamento portátil com microfone (bidule), traduz simultaneamente para os participantes, que estão com auriculares, as intervenções que vão sendo proferidas. Tal como na interpretação em cabina, é um serviço prestado em equipa de dois intérpretes que vão alternando entre si cada 20 ou 30 minutos.
Aplica-se às seguintes situações: eventos em que só haja duas línguas de trabalho e em que não seja de todo possível instalar uma cabina ou em visitas a instalações.
Idealmente deve ser efetuada a partir de um centro de interpretação (hub) com condições semelhantes às das cabinas de interpretação. Excecionalmente, pode ser efetuada a partir do computador do intérprete, através de uma plataforma online. Pode ser simultânea ou consecutiva.
Aplica-se às seguintes situações: videoconferências, eventos virtuais ou eventos em que os intérpretes não possam estar fisicamente no local.
História da interpretação
As origens da interpretação estão nos primórdios da Humanidade. Desde que povos de línguas diferentes começaram a ter contactos entre si, que surgiu a necessidade de intermediários que facilitassem a comunicação.
A mais antiga referência conhecida a um intérprete encontra-se num hieróglifo egípcio do terceiro milénio antes de Cristo e há registos de intérpretes por todo o Mundo Antigo. Ainda que o seu trabalho fosse indispensável, os intérpretes eram muitas vezes alvo de desconfiança por serem frequentemente escravos, prisioneiros de guerra ou habitantes de áreas fronteiriças e porque falavam com o inimigo na própria língua deste sem que se soubesse o que diziam.
O estatuto do intérprete começou a melhorar a partir da Idade Média e, sobretudo, com os Descobrimentos portugueses e consequente florescimento das relações comerciais entre a Europa, o Oriente e o Novo Mundo.
A interpretação de conferência tal como a conhecemos atualmente, na sua modalidade consecutiva, teve início com o Tratado de Versalhes, em 1918, uma vez que alguns dos representantes americanos não falavam francês, a língua diplomática da época, com a fluência necessária para as negociações do armistício.
Quase três décadas mais tarde, com o final da Segunda Guerra Mundial, o Julgamento de Nuremberga obrigou a que fossem utilizadas simultaneamente quatro línguas: inglês, francês, russo e alemão. A interpretação consecutiva era impensável, pois alongaria imensamente a duração das sessões, pelo que a IBM disponibilizou um equipamento que seria o embrião do que viria a ser a interpretação simultânea.
Desde então, a interpretação simultânea tem vindo a impor-se nas grandes instituições internacionais, como a ONU e a União Europeia, e no mundo dos negócios e da cultura. Os intérpretes de conferência são hoje reconhecidos como profissionais altamente qualificados que contribuem para a comunicação entre falantes de línguas diferentes e, nessa medida, para a Paz entre os povos.
A formação de intérpretes de conferência
Um intérprete de conferência deve possuir um conjunto de competências linguísticas aprofundadas (uma ou duas línguas ativas e tantas línguas passivas quanto possível) e de aptidões psicofisiológicas (capacidade de interpretação simultânea e consecutiva, facilidade de expressão, boa dicção, auto controlo e resistência ao stress, capacidade de trabalho em equipa…), para além de uma sólida e variada cultura geral, resultante de estudos superiores e de uma experiência de vida multicultural e plurilinguística.
Para ser intérprete de conferência profissional não basta ser fluente em duas ou mais línguas. É preciso aprender a interpretar simultaneamente; dominar técnicas de tomada de notas em interpretação consecutiva; adquirir vocabulário em diferentes áreas especializadas; aperfeiçoar a colocação da voz e a capacidade de expressão; etc. Geralmente, são necessários alguns anos de formação e prática intensivos para se tornar um intérprete profissional.
As instituições europeias e internacionais recrutam os seus intérpretes em função das capacidades de interpretação evidenciadas e não apenas com base na posse de um grau académico específico. Contudo, uma pós-graduação especializada em interpretação de conferência é importante para a boa formação do intérprete.
Em Portugal, a única formação específica nesta área que tem o aval da DG Interpretação da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu é o Curso de Especialização em Interpretação de Conferências da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Este curso efetua uma criteriosa seleção dos formandos e o seu corpo docente é constituído por intérpretes profissionais acreditados juntos das instituições europeias.